DETERMINAÇÃO DOS COMPOSTOS FENÓLICOS NO ROMÃ

Este capítulo faz parte da coletânea de trabalhos apresentados na VII Semana de Alimentos (Semal), publicado no livro: Avanços e Pesquisas em Ciência dos Alimentos: Novas Tendências e Aplicações. – Acesse ele aqui.

DOI: 10.53934/agronfy-2025-03-28

ISBN:

Fellype Alves Rodrigues *; Ellen Godinho Pinto ; Wiaslan Figueiredo Martins ; Dayana Silva Batista Soares ; Ana Paula Stort Fernandes

*Autor correspondente (Corresponding author) –Email: ellen.godinho@ifgoiano.edu.br;

RESUMO

A romã é conhecida por seus efeitos benéficos a saúde, principalmente por suas propriedades antioxidantes e é amplamente cultivada em diferentes regiões do mundo, o que reflete na grande diversidade de composição dos frutos. Este trabalho tem como objetivo determinar as análises físico-químicas e os teores de compostos fenólicos dos frutos da romã, oriundos do município de Morrinhos-GO. Após o despolpamento dos frutos, casca, polpa e semente foram realizadas as seguintes análises de pH, sólidos solúveis, umidade, vitamina C e compostos fenólicos totais. O conteúdo de vitamina C encontrado na casca foi de 63,32 mg/100 g, sendo maior que ao encontrado na polpa que foi de 40,31 mg/100 g. Já para os fenólicos totais, o extrato hidroalcoólico apresentou maior eficiência na casca 1,74 mgEAG/100 g, e o extrato aquoso apresentou maior eficiência na semente 1,55 mgEAG/100 g. O fruto da romã apresenta-se resultados expressivos para os compostos fenólicos.

Palavras-chave: extratos, Punica granatum L., vitamina C

INTRODUÇÃO

As plantas têm vindo a ser utilizadas desde tempos remotos, como fontes naturais de componentes ativos com propriedades benéficas para a saúde (1). A potencial utilização destes componentes como ingredientes de formulações alimentares adaptadas às exigências atuais dos consumidores é grandemente potenciada se as fontes naturais desses ingredientes forem matrizes naturais com grande disseminação, e em especial se puderem ser obtidas a baixo custo. Nesta perspetiva, a utilização dos produtos laterais que remanescem após o processamento industrial de produtos vegetais assume-se como uma abordagem com elevada probabilidade de sucesso, para além de auxiliar na resolução de problemas ambientais e ecológicos prementes (2).

Punica granatum L., uma espécie originária do oriente, distribuída em todo o mundo, conhecida popularmente no Brasil como romãzeira, onde adaptou-se bem às zonas áridas e semiáridas. É considerada como o membro predominante desta família, devido aos fatores históricos, étnicos medicinais e mitológicos associados a esta espécie. É citada em várias tradições como na mitologia grega, na arte egípcia, no antigo testamento e no Talmude da Babilônia (3).

Diversos usos medicinais têm sido atribuídos a esta espécie como hemostático, antibacteriano, antifúngico, antiviral, cicatrizante, no tratamento de bronquite, diarréia, problemas digestivos, impotência sexual e diabetes (4).

A casca de romã possui duas partes: a exterior apresenta um pericarpo rígido, e a interior constituída por um mesocarpo esponjoso esbranquiçado (albedo), que compreende a parede interna do fruto, no qual se encontram os arilos. As membranas do mesocarpo (constituídas por uma série de células epidérmicas) são organizadas de forma assimétrica como “compartimentos”, funcionando como uma proteção dos arilos, sendo eles a parte edivel do fruto. A cor dos arilos pode variar desde quase transparente até vermelho escuro (1).

Os compostos fenólicos constituem um grupo de substâncias muito numeroso e globalmente distribuído pelas espécies vegetais, tendo já sido identificadas mais de 8000 estruturas. Os compostos sintetizados através das vias da pentose-fosfato, chiquimato ou fenilpropanoides, estão entre os grupos mais importantes de metabolitos secundários produzidos pelas plantas (5).

Os fitoquímicos mais abundantes na romã são os compostos fenólicos, em particular um tipo de taninos hidrolisáveis designados como elagitaninos, que são formados a partir da ligação de um ácido elágico e um ácido gálico a um hidrato de carbono (estes elagitaninos são também comumente designados como punicalaginas) (1). A coloração vermelha do sumo de romã resulta da presença de antocianinas como a delfinidina, cianidina e pelargonidina, todos presentes na sua forma glicosilada. No total, foram já identificados mais de 150 compostos fenólicos, incluindo, para além dos elagitaninos e das antocianinas, flavonóis (e.g., quercetina), ácido fenólicos (e.g., ácido caféico, ácido clorogénico, ácido gálico, ácido o- e p-cumárico, ácido quínico) e ácido elágico (6, 7).

Este trabalho teve como objetivo a determinação de compostos fenólicos totais em extratos aquosos, hidroalcoólicos e alcóolico na casca, polpa e semente do fruto de romã.

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos de romã Punica granatum L. foram adquiridos no município deMorrinhos-GO. Foram levados ao laboratório de Análise de Alimentos para a realização das análises posteriormente.

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS

Foram realizadas as seguintes análises físico-química na casca, polpa e semente de romã. Análise de pH em pHmetro devidamente calibrado; umidade em infravermelho, teor de sólidos soluveis totais em refratometro e vitamina C com iodato de potássio. Todas as análises foram realizadas em triplicata de acordo com a metodologia do Instituto Adolf Lutz (8).

OBTENÇÃO DOS EXTRATOS E COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS

Os extratos aquosos, hidroalcoólicos (70ºGL) e alcoólicos foram segundo a metodologia de Souza et al. (9), a partir da romã integralmente: casca, polpa e semente. Os extratos foram obtidos 1:8 (m/m) romã/extrato. A mistura foi homogeneizada utilizando-sede agitação constante durante 30 minutos, à temperatura ambiente. Em seguida, o material foi submetido à centrifugação a 3000 x g, durante 15 minutos (10).

Para a determinação do teor de compostos fenólicos totais, seguiu-se metodologia de Swain; Hills (11), sendo os resultados calculados pela curva de calibração com ácido gálico, nas concentrações variando de 1,0 a 100 mg. mL–1., como demostrado na figura 1.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram submetidos ao teste de Tukey para comparação de médias, através do programa computacional Assistat versão 7.7.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1. pode-se observar de acordo com as análises físico-químicas realizadas no fruto de romã integral in natura.

Os valores de pH entre a casca e polpa da romã não tiveram diferença significativa, o valor encontrado por Santos et al. (12) foi inferior (2,93) ao encontrado neste trabalho, porém ficou próximo ao encontrado por Santos et al. (13) que encontraram valor de 3,54 na polpa da romã.

Os resultados para umidade da polpa, casca e semente apresentaram diferença significativa. Os resultados ficaram abaixo dos encontrados por (12) para a casca e polpa da romã, sendo que a polpa apresenta maior teor de umidade.

Os teores de sólidos soluvéis não apresentaram diferença entre a semente e a polpa, porém diferiu com a casca que apresentou maior teor de sólidos soluvéis totais. Santos et al. (13) encontraram valores de sólidos soluvéis próximos ao encontrado neste trabalho.

Os valores para vitamina C diferiram entre as amostras, sendo o maior valor encontrado na casca da romã (63,32 mg/100g). Valores inferiores foram encontrados na polpa do roma pelos autores (13), isso pode ter ocorrido devido a vitamina C ser facilmente degradada.

Do ponto de vista do conteúdo em compostos bioativos, a romã tem propensões em compostos fenólicos, já descritos como exercendo excelentes atividades fisiológicas (atividade antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória), inclusivamente com ação preventiva de doenças (14).

Os teores de fenólicos totais da casca, polpa e semente da romã nos extratos aquoso, hidroalcoólico e alcoólico estão demonstrados na Tabela 2.

Nos extratos aquosos e hidroalcoólicos os teores de compostos fenólicos não diferiram entre a casca e a polpa da romã. Os valores encontrados dos compostos fenólicos para a polpa da romã por (15, 16) foram superiores ao encontrado neste estudo como podese observar, 788mg/100 g EAG e 89,12 mg/100 g EAG, respectivamente, isso pode ter ocorrido pelo método de preparação dos extratos aquosos.

Já nos extratos alcoólicos foi verificado a diferença significativa entre eles observando que o maior valor do composto fenólico encontrado foi na casca da romã, corroborrando com (1) que encontrou maior concentração de compostos fenólicos na casca (8,4 mg/100 gEAG) sendo quatro vezes maior que na polpa (2,1 mg/100 gEAG).

Podemos observar que para a casca de romã os extratos apresentaram diferença significativa, porém o extrato que teve maior eficacia na extração dos compostos fenólicos foi o hidroalcoólico.

Para as sementes da romã os extratos hidroalcoólico e alcoólicos não apresentaram diferença significativa, entretanto, o extrato aquoso foi superior mais que o dobro na extração dos compostos fenólicos deste.

Para a polpa do fruto da romã todos os extratos se diferiram entre si, sendo que os resultados ficaram próximo ao encontrado para a casca de romã, maior eficacia no extrato hidroalcoólico.

Resultados próximos a estes para os compostos fenólicos em gariroba foram encontrados por (17), onde os maiores valores de fenólicos na casca e polpa foram nos extratos hidroalcoólicos e na polpa foi o extrato aquoso.

CONCLUSÕES

Com a composição do fruto, pode-se concluir que o fruto de romã apresenta quantidades significativas de umidade no fruto e vitamina C na casca. Na extração dos fenólicos totais, o extrato hidroalcoólico apresentou uma melhor eficiência na casca e polpa, e o extrato aquoso uma melhor eficiência na semente.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal Goiano-Campus Morrinhos, por todo apoio durante a realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

1. Veloso FS. Biorresíduos de Punica granatum L. como potencial fonte decompostos fenólicos com aplicação alimentar, Mestre. Bragança: InstitutoPolitécnico de Bragança e à Universidade Tecnológica Federal do Paraná,2021.

2. Gullón B, Garrote G, Alonso JL, Parajó JC. Production of L-lactic acid andoligomeric compounds from apple pomace by simultaneous saccharificationand fermentation: A response surface methodology assessment. Journal ofAgricultural and Food Chemistry, 2007. 55:5580–5587.

3. Neurath AR, Strick N, Li YY, Debnath AK. Punica granatum (pomegranate)juice provides an HIV-1 entry inhibitor and candidate topical microbicide.Ann NY Acad Sci. 2005; 1056:311-27.

4. Lansky EP, Newman RA. Punica granatum (pomegranate) and its potentialfor prevention and treatment of inflammation and cancer. J Ethnopharmacol2007; 109:177-206.

5. Barnes, J. Medicinal natural products. Focus on Alternative andComplementary Therapies, 2010. 3: 78–78.

6. Fischer UA, Carle R, Kammerer DR. Identification and quantification ofphenolic compounds from pomegranate (Punica granatum L.) peel,mesocarp, aril and differently produced juices by HPLC-DAD-ESI/MS n.Food Chemistry, 2011. 127: 807–821.

7. Gómez-Caravaca AM, Verardo V, Toselli M, Segura-Carretero A,Fernández-Gutiérrez A, Caboni MF. Determination of the major phenoliccompounds in pomegranate juices by HPLC-DAD-ESI-MS. Journal ofAgricultural and Food Chemistry, 2013. 61: 5328–5337.

8. Instituto Adolfo Lutz. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: v. 1:Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. ed. 5 São Paulo:IMESP, 2008.

9. Souza MSB, Vieira LM, Lima A. Fenólicos totais e capacidade antioxidantein vitro de resíduos de polpas de frutas tropicais. Brazilian Journal FoodTechnology, 2011. 14: 202-210.

10. Fogaça DL, Pinto JunioR WR, Rego Junior NO, Nunes GS. Atividadeantioxidante e teor de fenólicos de folhas da Terminalia catappa Linn emdiferentes estágios de maturação. Revista Ciência Farmacêuticas Básica eAplicada, 2013. 34:257-261.

11. Swain T, Hills WE. The phenolic constituents ofPunnusdomestica.Iquantitative analysis of phenolics constituents. Journal ofthe Science of Food and Agriculture, London. 1959, 19:63-68.

12. Santos JA, Acevedo AFG, Lacerda VR, Vietes RL. Caracterização físicoquímica, nutricional e compostos bioativos de romã. Research, Society andDevelopment, 2022. 11:e18511222777.

13. Santos EHB, Batista FPR, Pereira LM, Campos LMA, Castro MS, AzevedoLC. COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS FRUTOS DA ROMÃ (Punicagranatum L.). 2006. [Online] Uso de plantas medicinais como alternativafitoterápica nas unidades de saúde pública de Santa Teresa e Marilândia, ES.Natureza on line p. 30–39.Homepage:www.naturezaonline.com.br/natureza/conteúdo/pdf/medicinais_Strer_Mari.pdf.

14. Subash, S., Essa, M. M., Al-Asmi, A., Al-Adawi, S., Vaishnav, R., Braidy,N., … Guillemin, G. J. (2014). Pomegranate from Oman Alleviates the BrainOxidative Damage in Transgenic Mouse Model of Alzheimer’s Disease.Journal of Traditional and Complementary Medicine, 4(4), 232–238.

15. Betemps D, Affonso L, Manica-Berto R, Severo J, Fachinello JC, Silva JA.Compostos fenólicos totais em romã. XVII Congresso de InciciaçãoCientífica, 2008.

16. Zago GR, Gottardo FM, Bilibio D, Freitas CP, Bertol CD, Dickel EL, SantosLR. Ciencia Rural, 2020. 50: e20190689.

17. Mendes RM, Pinto EG, Soares DSB. Determinação dos compostos bioativosda gabiroba. Revista Agrarian, 2018. 11:68-72.

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